A familiaridade com os livros não é algo instintivo. É preciso que ajudemos nossos filhos nessa conquista — e quanto mais cedo, melhor. Porém, não é porque não atentamos para isso em seus primeiros anos de vida que, agora, a situação seja irreversível. É possível, sim, que um adolescente se torne um leitor assíduo, ainda que isso exija um pouco mais de esforço da nossa parte e da parte dele.
1. Um passo de cada vez
Considerando que seu filho não tem o costume de ler — e tenha, talvez, até uma certa resistência –, você, pai ou mãe, não deve começar sugerindo leituras que nada têm a ver com o universo dele, por melhores que sejam. Parta, ao contrário, de algo do interesse imediato do adolescente, pouco importando o gênero literário. Por exemplo: se a menina gosta de moda, dê-lhe uma biografia de alguma personalidade famosa, ou algum manual de estilo; se o menino gosta de séries e filmes policiais, dê-lhe leituras que explorem temas semelhantes, como Agatha Christie ou Arthur Conan Doyle — pode ser que você precise recorrer às HQs, e não há problema. Filmes e documentários explorando as histórias dos autores e personagens podem também ser usados para ajudar a aumentar o interesse nos livros.
Pode parecer pouco, mas nesse ponto da jornada a questão ainda não é a qualidade das obras, mas sim a conquista de uma boa disposição para leitura. Então, lembre-se: um passo de cada vez, sem atropelos e sem pressão.
2. Expandindo o repertório
Depois que o adolescente já leu algumas obras que seguem aquele mesmo estilo, isto é, depois que foi vencida a indiferença ou resistência aos livros, podemos começar a expandir um pouco mais o seu repertório diversificando os gêneros das obras ou oferecendo outros — e talvez melhores — conteúdos. Nessa etapa é preciso bastante sensibilidade da sua parte, pai ou mãe, para que a transição seja feita com sucesso, de maneira gradativa e sem grandes saltos. Por exemplo: depois de ler alguns manuais de moda ou algumas biografias, talvez seja uma boa hora para oferecer à menina algum romance de Jane Austen ou alguma biografia de um outro tipo, como O diário de Anne Frank; depois de ter lido alguns romances policiais mais populares, talvez seja um bom momento para oferecer a série de aventuras do Padre Brown, de G. K. Chesterton, ou a trilogia de O senhor dos anéis, de J. R. R. Tolkien.
Nessa etapa, o foco não é tornar seu adolescente um leitor muito profundo ou muito versado, mas mostrar-lhe, indiretamente, com toda a discrição que essa época da vida dele exige de nós, que existem coisas mais interessantes e melhores do que aquelas lidas até então. Em outras palavras, trata-se de uma etapa de aquisição de confiança e liberdade, de alargamento do próprio “território” literário. Esse é um passo importante, pois sem ele o avanço para os grandes livros dificilmente acontecerá.
3. Chegando ao topo
É provável que o adolescente que passou pelas fases anteriores já tenha adquirido uma boa familiaridade com os livros. Portanto, de certa forma, o objetivo já foi alcançado. Mas se você quer que ele vá ainda mais longe, então é chegado o momento de oferecer-lhe os grande livros, isto é, os melhores autores. Aqui, o princípio de partir daquilo que é mais conhecido/familiar em direção ao que é menos conhecido/familiar permanece valendo. Na prática, isso significa que talvez você ainda não possa oferecer Homero para o seu filho sem correr o sério risco de ver a obra abandonada num canto qualquer, mas talvez você possa oferecer-lhe Shakespeare; talvez ele ainda não consiga ler Camões, mas provavelmente conseguirá ler algum conto do Machado de Assis.
Enfim, a chegada ao topo leva-nos a perceber que esse cume é, na verdade, uma grande planície na qual se encontram nomes das mais diferentes épocas e lugares; nomes que merecem nossa atenção porque falam a toda humanidade; nomes que, no prazo de uma vida, apenas começamos a conhecer, mas jamais chegaremos a esgotar completamente. E tal descoberta vale todo o esforço da subida.
Que felicidade ler o Blog do clubinho! Com certeza fará parte da minha leitura e dos ensinamentos para toda minha família.
Boa tarde!
Obrigado pelas informações! Já estão nos ajudando muito aqui em casa.
Mas deixa eu perguntar uma coisa: vocês têm app pra podermos acessar os audiolivros? Seria legal!